A Representação
do Cavaleiro
na Épica Espanhola: o Cid
Jordi Pardo Pastor
Archivivm Lvllianvm-Universitat Autònoma de Barcelona
e Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência
Raimundo Lúlio (“Ramon Llull”)
Archivivm Lvllianvm-Universitat Autònoma de Barcelona
e Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência
Raimundo Lúlio (“Ramon Llull”)
Brinda, poeta, un canto de frontera
Antonio Machado
Antonio Machado
As representações do cavaleiro na Idade Média são muito significativas pois
sua percepção doutrinal é muito diferente da percepção literária. Observando,
num primeiro momento, não os textos literários, mas os doutrinais, observaremos
que a concepção do cavaleiro é distinta por um motivo fundamental: o ponto do
vista daquele que registrou por escrito o documento. Explico: o entendimento do
conceito de cavalaria por parte do emissor da mensagem nos textos
literários –no, caso o “cantar de gesta”– é normalmente um jogral, que, via de
regra, sempre enaltece as virtudes e os êxitos do cavaleiro.
Por outro lado, nos textos históricos ou doutrinais, quem observa e julga o
cavaleiro é alguém mais preocupado com o mundo real, alguém que não se dedica à
ficção literária. Por fim, a criação (real ou literária) do cavaleiro também
está ligada à guerra, atividade militar levada a cabo pela nobreza. A ideologia
dessas classes dirigentes tem seu foco na arte militar por diversos motivos: a
conquista dos novos territórios, o enriquecimento pessoal ou a simples avidez
pelo deleite e a virtú. Do mesmo modo, a Igreja serviu-se do ímpeto
cavaleiresco e forjou uma ideologia baseada em três pontos: a fidelidade, o
valor e a generosidade [1] .
Assim, podemos estabelecer alguns primeiros traços comuns à cavalaria no
mundo Ocidental. Esta ordem iniciou-se no mundo antigo com o exército romano
que, em que pese o ímpeto da infantaria, estava muito bem preparada
–respaldamos nossa tese no tratado sobre a Arte Militar de Vegécio ou as
Histórias do sempre citado Tácito– e começou a preparar o terreno para a
época posterior.
Mas não só os enfrentamentos entre o Império Romano Hispânico e os bárbaros
na batalha da Adrianópolis –e o porvindouro tratado entre ambas partes–
suscitou uma nova estratificação social baseada na guerra como maneira suprema
de se ver a vida. Foi principalmente no início da sociedade dita feudal, onde
um senhor da guerra protegia seus vassalos graças aos exércitos que dispunha.
Como desenlace desse contexto histórico temos a invasão muçulmana, que
encontrou na Península Ibérica o apoio dos semitas fustigados pelos visigodos e
trouxe consigo um novo modelo do cavaleiro: o cavaleiro semita, de estribo e
espora, em uma sela um pouco mais alta e que permitia uma maior estabilidade ao
ginete para golpes mais fortes e arrojados.
Assim, após apresentarmos, grosso modo, o surgimento histórico da
cavalaria até o século VIII –de sua origem romana, passando pela criação do
sistema feudal e o novo cavaleiro muçulmano–, delimitaremos qual é a
importância do conceito de fronteira neste processo. Certamente, estamos
num período de guerra constante: as fronteiras são continuamente redesenhadas,
já que as sucessivas conquistas e reconquistas dos territórios provocavam
cruentas e constantes refregas por um palmo do terreno. Surge, pois, neste
período, os conceitos de “Reconquista” e “Cruzada” [2] .
Na Península Ibérica, um dos principais artífices da construção do conceito
de “Cruzada” foi o monastério de Cluny, que apoiou Sancho III de Navarra e
intercedeu junto ao papado em prol da reconquista castelhana. Neste período,
surgiram lideranças autônomas que se moviam entre ambos os lados, o cristão e o
muçulmano, conseguindo riquezas e territórios em suas incursões. É o caso do
Cid Campeador.
No entanto, o panorama tornou-se mais complexo. Por um lado, com o auxilio
dos reinos europeus além-pireneus aos reinos hispânicos, unidos ao papado e sua
concepção de cruzada [3] ; por outro, com o surgimento das
dinastias muçulmanas dos almorávidas e almôadas.
II. O nascimento dos reinos e das fronteiras hispânicas nos séculos VIII-X
Para uma melhor compreensão do nascimento dos reinos hispânicos entre os
séculos VIII e X, é conditio sine qua non estabelecer a fundação dos
reinos peninsulares e quais eram as condições sócio-culturais da época. Num
primeiro momento, em 711 os muçulmanos invadiram a península e venceram seus
povoadores: os reinos hispânicos foram subjugados, seja mediante sua derrota em
batalha, seja mediante a coação do pagamento de uns tributos – jarach
– [4] . A resistência foi mínima: apenas os
reinos de Córdoba, Sevilha e Mérida organizaram-se para combater o intruso, os
outros reinos apressaram-se a estabelecer tratados com os vencedores. Ao mesmo
tempo, enquanto os muçulmanos começavam a acomodar-se nos territórios
conquistados, no reino asturiano-leonês, a aliança entre o duque Pedro
–governador da Cantábria– e Pelágio –que conseguiu todo o poder até a aliança–
permitiu um fato muito importante: a vitória na batalha de Covadonga (722).
Começa, pois, com esta luta o período da Reconquista.
Mais tarde, Afonso I (739-757), aproveitando as dificuldades internas de
al-Andalus, que sofreu uma profunda crise até a derrota na batalha de Poitiers
(732), realizou uma série de incursões que expurgaram a fronteira do reino dos
inimigos. De qualquer forma, Alfonso II (791-842) tornará a ordem gótica no
seu reino –ideologia segundo a qual os reis asturianos eram legítimos
descendentes dos reis godos do Toledo–, e impôs o Fuero Juzgo,
erigindo-se como o defensor da ortodoxia através do Beato de Liébana [5] . Com Afonso III (866-909) a política
asturiana alcançou seu ponto mais elevado, pois seu reinado viu-se favorecido
com a primeira crise do emirado cordovês, fato que permitiu reconquistar as
terras do Duero, convertendo, assim, a margem do rio em uma fronteira
insuperável. [6]
Outros reinos, como o de Castela, foram decisivos neste momento, já que o
conde Fernán González de Lara (929-970), convertido desde o ano 931 em “conde
de toda Castilla”, aproveitou a crise do reino asturiano-leonês –provocada pela
morte de Ramiro II– para fazer do reino da Castela um principado feudal. Assim,
Castela alcançou sua independência e forjou uma grande linha de contenção à
base de castelos, fato que deu o nome ao reino. [7] Os descendentes do González de Lara
aumentaram o grau de independência do reino, embora após o assassinato de León
de García Sánchez (1017-1029) o reino castelhano tenha entrado na órbita do
reino da Navarra. Por outro lado, o reino da Navarra foi outro dos suportes
deste período: os vascões de Pamplona conseguiram manter sua independência,
pagando tributos aos muçulmanos ou lutando com os inimigos franceses.
Recordemos a batalha de Roncesvalles (778) –fato narrado na Chanson de
Roland– na que conseguiram frear, talvez com a ajuda dos muçulmanos, Carlos
Magno e as suas tropas. [8]
Desta sorte, a situação do reino da Navarra só se normalizou quando Sancho
Garcés I, da família dos Jimena, estabeleceu uma aliança com o rei Afonso III,
das Astúrias. Em suas incursões aos territórios invadidos pelos inimigos,
Sancho I conquistou as terras de Sobrarbe, Calahorra e, traspassando o Ebro,
Nájera e Viguera. Do mesmo modo, no reino da Catalunha, as incursões muçulmanas
provocaram muitos problemas, já no ano de 785 era conquistada Girona, e em 801,
Barcelona. Contudo, a princípios do século XI, recuperado dos ataques de
Almançor, encontramos o reino catalão já formado territorialmente e bastante
agressivo, ao ponto de arrasar o reino de Córdoba em 1010. [9]
Além deste pequeno esboço sobre a configuração das fronteiras nos primeiros
séculos do feudalismo peninsular da Idade Média, é importante que nos
detenhamos no alvorecer do século XI, período em que se forja o estado mais
forte da Península até o momento. Neste período surgem os reinos muçulmanos de
taifas, devido ao processo de decomposição do al-Andalus a partir da morte de
Almançor (1002). Um descendente de Sancho I de Navarra, Sancho III, o Maior
(1004-1035) [10] , tornou-se a figura mais representativa
da Península nestes anos. Aproveitando a crise do califado e sendo conde da
Castela desde 1029, chegou a usurpar o título leonês do imperador. Com a morte
de Sancho III, seu testamento foi a causa de um novo enfrentamento entre o
primeiro rei de Castela, Fernando I, e seu cunhado, o rei de Leão, Bermudo III.
A batalha entre ambos –Tamarón (1037)–, acabou com a morte de Bermudo III, e
Fernando I tomou posse de seu reino, e surge então o reino de Castela e Leão.
Do mesmo modo, com o propósito de restaurar os reinos tradicionais de
Castela, ou seja, os reinos que sempre tinham pertencido ao reino castelhano,
Fernando I enfrentou seu irmão, Garcia Sanchez III, com a intenção de recuperar
as terras antes castelhanas e agora em poder do reino de Navarra. Por outro
lado, foi crucial o êxito das campanhas contra os reinos de taifas, pois
Fernando I recuperou os territórios de Viseu, Lamego, Coimbra, San Esteban
Gormaz, chegando até Alcalá de Henares. Com este avanço, a fronteira
estabeleceu-se no vale do Mondego, em seu setor mais ocidental, e no centro do
vale do Tejo [11] . Em janeiro de 1064, na finalização das
homenagens em honra ao corpo de Santo Isidoro de Sevilha, o rei castelhano
Fernando I fez seu testamento, dividindo seus reinos entre seus três filhos:
para o primogênito, Sancho, o reino do Castela e as parias [12] de Zaragoza; para Afonso, o reino de Leão
e as pariasde Toledo; para Garcia, o reino da Galícia e o norte de Portugal,
com as parias de Badajoz e Sevilha. Suas duas filhas, Urraca e Elvira,
receberam o conjunto de monastérios régios e as cidades da Zamora e Toro. Este
divisão teve funestas conseqüências pois Sancho II de Castela (1065-1072) não
acatou-a divisão e, por esse motivo, enfrentou-se com os seus irmãos.
III. O Cid e a sua Espanha
Morto Fernando I em 1065 – antes de morrer ainda conquistou a cidade da
Coimbra – Sancho II acabou a guerra com o reino do Aragão. Esta guerra – a
“guerra dos três Sanchos” – devia-se à expansão castelhana para o Oriente, fato
que provocou a inveja de seus primos, os reis de Aragão e de Navarra. A seguir,
começou a reconstrução do reino paterno. O primeiro a padecer a ira de Sancho
II foi seu irmão Garcia, rei da Galícia, quem teve que refugiar-se na taifa do
rei Moctamid, em Sevilha. Pouco antes de o rei Sancho assinar seus diplomas com
o título in Castiella et in Galletia, Afonso VI havia-se proclamado legionensis
imperii rex et magnificus trunfator. O novo rei da Galícia atacou em
seguida o novo imperador leonês, Sancho II. Depois disso, venceu seu irmão Afonso
e retirou-lhe suas taifas de Toledo.
Neste panorama apresentado, D. Urraca, irmã de Sancho e de Afonso, tem um
papel preponderante, pois sentia uma grande predileção pelo segundo. Assim,
pois, D. Urraca insuflou uma rebelião do povo leonês para derrubar o usurpador.
Sancho II cercou a cidade de Zamora, e foi assassinado por Bellido Adolfo,
zamorano insuflado por D. Urraca para cometer essa pérfida ação. O epitáfio do
sepulcro do jovem rei Sancho reza: Santius, forma Paris et ferox Hector in
armis, clauditur hac tumba jam factus pulvis et umbra, além de referir-se
ao assassino como Belleti Adelfis, magni traditoris, e a mulher, cujo
pérfido conselho originou a catástrofe castelhana [13] .
Imediatamente, Afonso VI (1072-1109) foi chamado por sua irmã D. Urraca,
que obteve o título de rainha, para reclamar o império que se encontrava sem
governo. Urgia tomar posse do reino de Castela, mas lá estavam os companheiros
do rei morto capitaneados por Rodrigo Díaz de Vivar, o Cid Campeador.
Por outro lado, não restava a estes fiéis homens outra opção senão acatar
Afonso VI como rei do império. Assim, para manter sua honra de cavaleiros,
exigiram que o novo rei jurasse que não havia participado do assassinato de seu
irmão, Sancho II.
Com este episódio, chamado “jura de Santa Gadea”, começa o Cantar de mío
Cid e o desterro de nosso herói. [14] Rodrigo Díaz de Vivar –que toma o seu
nome de uma pequena aldeia– não era um grande senhor, mas um nobre de segunda
categoria. Seu pai, Diego Laínez, participou das guerras entre Castela e
Navarra, pois as fronteiras deste último reino, estabelecidas por Sancho, o
Maior, alcançavam suas terras patrimoniais. Certamente, Rodrigo, que
pertencia a uma família ilustre por parte de sua mãe, cresceu junto ao infante
dom Sancho, consagrando-lhe uma grande devoção. O caminho desses ilustres
homens esteve unido até a morte de Sancho II. O Cid, junto a seu senhor,
brigou ao lado de Moctadir de Zaragoza contra o rei Ramiro do Aragão (1063), e
foi alçado, dada sua coragem na luta, ao mesmo nível que os ricos-homens. Além
disso, obteve o título de Campi doctor, que consta nos poemas que contam
suas façanhas.
Até a morte do rei Sancho, Rodrigo Díaz de Vivar serviu o rei Alfonso VI,
legítimo herdeiro do império, e este lhe encarregou a arrecadação das parias da
Sevilha. Durante seu regresso, seus inimigos –¡Esto me an buelto mios
enemigos malos! (v. 9) [15] – acusaram-no de ter ficado com uma parte
do arrecadamento daquele tributo. Assim, o Cid caiu em desgraça e foi
desterrado pelo rei Alfonso. À frente de uma mesnada em 1080, o Cid
passou a formar parte do exército do rei sarraceno de Zaragoza. Contudo, em
duas ocasiões, o rei Alfonso recebeu o Cid, mas voltou a desterrá-lo. Dessa
forma, o Cid Campeador atacou o rei moro de Leida e passou a formar
parte, nessa ocasião, do exército do rei de Valência, em cujo nome venceu em
Tévar (1090) o conde de Barcelona, Berenguer Ramon II, aliado do rei de Leida.
Quando se apoderou da cidade de Valência (1094), o prestígio do Cid
já era muito grande, até alguns enfrentamentos com o rei Afonso VI, depois da
morte de seu amigo Al-Qadir. Após a tomada de Valência, o Cid
reconciliou-se com Afonso VI, o qual, enquanto o Cid realizava as suas
incursões nos mencionados reinos levantinos, ocupava a cidade de Toledo (1085),
ultrapassando a fronteira do vale do Duero até o vale do Tejo.
Paralelamente, a fronteira se consolidara com a repovoamento de antigas
cidades como Madrid, Coria, Guadalajara, Talavera, Mora e Uclés. Depois dessas
conquistas, os reinos muçulmanos de Sevilha, Badajoz e Granada pediram ajuda
aos almorávidas do norte das terras da África, fato que provocou que este povo
belicoso e fanático, que provinha dos territórios do Marrocos, vencesse o rei
Afonso na batalha de Sagrajas (Zalaca), em 1086, provocando maus tempos para o
império castelhano com as derrotas posteriores de Consuegra (1097) e Uclés
(1108).
A situação da Península no final do século XI era tão delicada e grave para
os cristãos que estes tiveram que pedir ajuda a um exército do cruzados
franceses para conter os muçulmanos. Esta é a Espanha do Cid –como a
denominou o mestre Dom Ramón Menéndez Pidal [16] – e este é o ambiente no qual foi forjado
o Cantar, e o personagem do Cid, Rodrigo Díaz de Vivar, foi
reivindicado como um exemplo a ser seguido pelos cavaleiros cristãos em sua
luta na fronteira.
IV. A importância da fronteira na configuração do personagem do Cid
Em nossa introdução –partindo de uma contextualização histórico-política da
situação da Península no século XI–, falamos do ponto do vista com o qual foi
visto o cavaleiro no cantar de gesta, e, em nosso caso, como se viu o
personagem do Cid Campeador e quais eram as virtudes com as quais o
criador do poema criou nosso herói [17] .
Assim, considero fundamental definir o que entendo como épica, antes
de iniciar minha análise do Cantar:
Cantum vero gestualem dicimus in quo gesta heroum et antiquorum patrum
opera recitantur, sicut et martyria sanctorum et adversitates quas antiqui viri
pro fide et veritate passi sunt, sicut vita beati Stephani protomartyris et
historia regis Karoli. [18]
Como pode
ser observado, a épica se refere ao heroísmo, guerreiro ou religioso. Não
obstante, antes de tratar o point of view, em primeiro lugar devemos
observar a data da composição da obra –aspecto importante, embora não
fundamental para nosso trabalho–, além de tentar observar a sua difusão entre o
público da época. Segundo Dom Ramón Menéndez Pidal, deve-se fixar a data de composição
do Cantar de Mio Cid em torno de 1140. Se levamos em conta que a data do
exemplar conservado remete a uma cópia de um manuscrito de 1207, podemos
afirmar que o Cantar de Mio Cid era conhecido oralmente, além de ser um
tema observado pelos cavaleiros época, isto é, entre o final do século XII e o
início do XIII [19] . Bem, ad meo arbitrio o mais
importante do Cantar de Mio Cid não é a data de sua composição, mas que
o Cantar foi forjado na fronteira, por homens fronteiriços e profundos
conhecedores daqueles problemas da interação entre os dois mundos, homens que
sofriam na carne as dificuldades daquele tipo de vida. Assim, o mais importante
para se observar no Cantar é seu ponto de vista, fato já assinalado em
nossa Introdução.
Deste modo,
para as gentes que viviam na fronteira no final do século XII e início do XIII,
o Cantar de Mio Cid era sentido como uma história verdadeira, na qual um
homem como eles havia realizado as maiores proezas cavaleirescas. Neste
sentido, tanto o Cantar como seu personagem, o Cid Campeador, são
dois exemplos, modelos que deviam ser seguidos pelos homens de fronteira.
Além disso,
o Cantar é uma espécie de espelho para o povo, pois, levando-se
em conta as teorias sobre o espelho platônico [20] , os homens podem vir-a-ser refletidos no
personagem: estabelece-se uma identificação entre eles e o Cid. A maior
vitória estilístico-literária do Cantar é a configuração do
protagonista. Neste sentido, o jogral cria seu personagem literário –que tem
seu correlato no mundo real– com um tom totalmente diferente da épica escrita
até então. Se compararmos o Cantar com os ‘cantares de gesta’ franceses
e germânicos de então, observaremos que o personagem de além-Pireneus é um
herói irreal, alguém que pouco se assemelha aos homens a pé –os meros
camponeses–. Explico: o Rolando da Chanson de Roldan ou os personagens
do Nibelungenlied são heróis invencíveis – como nosso Cid – mas
são heróis muito mais próximos de seres fantásticos do que dos homens. O Cid
é um protagonista que logo que inicia seu relato mostra-nos sua sensibilidade
mais humana:
De los sos ojos tan fuertemientre llorando,
tornava la cabeça
e estávalos catando (vv. 1-2)
Este efeito
introdutório é crucial –como veremos depois no conjunto da obra – para a
recepção do personagem por parte do leitor. O início in medias res eleva
a figura do Cid Campeador, que cresce entre a injustiça e o abandono ao
qual se vê submetido. Nosso poema começa sob o efeito nostálgico da saudade: o
desterro, a separação de sua família, a recordação saudosa de suas terras – “de
Castiella la gentil exidos somos acá” (v. 672). A pátria é o que existe de mais
grandioso para o Cid. Tudo o que nela se encontra é profundamente amado
por nosso herói, os palácios, as casas, a gente, e mais importante, sua
família. Aqui está a representação mais humana, mais familiar de nosso
protagonista no momento que se separa de sua família:
Enclinó las manos la barba vellida,
a las sues fijas em braço’ las prendía,
llególas al coraçón, ca mucho las quería.
Llora de los ojos, tan fuerte mientra sospira:
Ya doña Ximena, la mi mugier tan complida,
commo a la mie alma yo tanto vos quería.
Ya lo veedes que partir hemos en vida (vv. 275-280)
Além disso, o Cid Campeador mostra outras duas facetas imbricadas: o
guerreiro e o senhor feudal. Assim, o Cantar de mio Cid mostra-nos a
maior representação das virtudes de um cavaleiro na Idade Média, já que a
própria interpretação dramática desde a qual arranca o poema –o choro do Cid–,
provoca no leitor a imediata simpatia pelo herói.
O cavaleiro deveria ter as seguintes virtudes: justiça, prudência,
fortaleza e temperança. A atuação do Cid é exemplar, pois desde o início
erige-se como um cavaleiro virtuoso por antonomasia. Até seu desterro, o Cid
não se converteu no cavaleiro rebelde que brigou contra o seu rei – “Com
Alfonso mi señor no quería lidiar” (v. 62). Pelo contrário, seguiu fiel a seu
rei, dando-lhe um tributo cada vez que conquistava um novo território. Este é
um aspecto literário do Cantar que diz muito da psicologia de nosso
herói.
Contudo, mesmo sofrendo a injustiça régia, o Cid é sempre um claro
exemplo da justiça, sua personificação. Por outro lado, a prudência do Cid
pode ser vista num episódio onde Rodrigo Díaz de Bivar liberta o conde Ramon
Berenguer sem exigir-lhe o habitual resgate – “e si vos comiéredes don yo sea
pagado, / a vos el comde e dos fijos falfo / quitarvos de los cuerpos e darvos
de mano.” (vv. 1034-1035b). Mas até nesta faceta benévola do Cid
encontra-se sua fortaleza: “Espada tajador, sangriento trae el braço, / por el
cobdo ayuso la sangre destellando” (vv. 780-781), e sua temperança: “fabló mio
Cid bien e tan mesurado.” (v. 7)
Não obstante, todas as suas virtudes poderiam resumir-se em duas: fortitudo
e sapientia. A fortitudo é a capacidade de atuar frente a uma
situação adversa: é o dinamismo do herói e o poder do caudilho. Por sua vez, a sapientia
se manifesta em seu conhecimento, no “saber estar”, na prudência. Aliás, esta
configuração do personagem tem motivos concretos: em primeiro lugar,
estabelecer uma identificação entre o Cid –que representa os valores
éticos, políticos e sociais da sua época– e o público-leitor; por outro,
arrebatar o coração dos ouvintes pelo ímpeto da batalha, pois neste momento
histórico, como vimos, o panorama geopolítico da fronteira é bastante complexo.
O Cid converte-se, assim, num modelo paradigmático que deveria ser
imitado. O cavaleiro assim estimulado poderia perfeitamente combater sob suas
ordens.
Mas o locus do Cantar não só representa a realidade
circundante do povo, do público-leitor. Toda a narração situa-se em San Esteban
de Gormaz, território conquistado por Fernando I: estamos em um dos centros
nevrálgicos da fronteira castelhana, no extremo do Duero. Nas palavras de
Alberto Vàrvaro, os cantares de gesta são cantares da fronteira
espanhola, com um tom de realismo que converte a história contada em um
episódio da história contemporânea. Assim, a fronteira é uma sociedade em
armas, continuamente em estado de alerta e disposta ao saque e ao ataque. Nesse
sentido, o público do Cantar é composto de gentes do Gormaz –“siempre
mesurados”, “muy pros”, e “coñoscedores” (v. 2820 e ss.)– totalmente
conscientes da situação fronteiriça do momento. Por isso, através do realismo
literário do Cantar, o leitor assiste a uma encenação de sua própria
realidade, de sua vida, a encenação da vida e da realidade da fronteira
castelhana no século XII.
V. Conclusão
A representação do “cavaleiro perfeito” que se pode observar no Cantar
de mio Cid é a esperança da sociedade da época. Do mesmo modo, num momento
tão difícil para os povoadores da fronteira e dos reinos hispânicos, o Cid
Campeador erige-se como uma figura representativa dos ideais daqueles
homens. Claro exemplo são os romances que surgem no período imediatamente
anterior à composição do Cantar –poema de três mil versos –, que contam
a vida e milagres do Cid: desde sua juventude até sua morte na conhecida
última batalha. Assim, os romances falam do Cid deste modo:
¡Poderoso vencedor, jamás derrotado,
baluarte de nuestra tierra,
escudo de España, su orgullo y su gloria,
caballero del ejército más temido,
vengador de moros y traidores,
poderoso rayo de guerra,
espejo brillante de la caballería,
Além disso, os romances também dedicam-se a contar a história da Espanha do
Cid, tratando os episódios acima contados entre o rei Sancho e seus
irmãos, ou, por exemplo, o episódio da “jura da Santa Gadea”:
Por tanto, si eres inocente,
te pido que jures,
tú y doce de estos caballeros,
quienes estaban contigo em el exilio,
que em la muerte de tu hermano
no tomaste parte,
que ninguno de vosotros su asesinato
Esses romances confirmam a idéia que o Cid torna-se um exemplo para
o povo da fronteira. Nesses escritos, que possuem uma profundo tom de
oralidade, conta-se a evolução da história da Espanha sob o carisma do herói
que resulta no Cid Campeador. Por fim, o Cantar é uma composição
literária para o povo de fronteira, pois nele narram-se as inquietudes e
sofrimentos nos quais os homens fronteiriços vivem cada momento. Além disso,
com o Cid Campeador pode-se ter um referencial paradigmático na luta
contra os infiéis e contra todas as penúrias, inclusive a fome. Pois “¿Mala
cueta es, señores, aver mingua de pan, / fijos e mugieres verlos murir de
fanbre!” (vv. 1178-1179).
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* Agradeço ao Prof. Dr. Ricardo da
Costa e ao Prof. Dr. Jean Lauand as suas correções gramaticais e os seus sábios
conselhos.
** O presente trabalho foi publicado na
revista Dimensões 15 (2003), pp. 263-276, com o nome de José Jordi,
irreparável erro dos coordenadores da revista.
[1] COSTA, Ricardo da. A Guerra na Idade
Média. Um estudo da mentalidade de cruzada na Península Ibérica. Edições
Paratodos: Rio de Janeiro, 1998.
[2] Até a invasão muçulmana do 711,
podemos falar da Reconquista nos Reinos hispânicos a partir da batalha de
Covadonga em o 722. Vid. GONZÁLEZ-JIMÉNEZ, M.
“Reconquista y Repoblación del Occidente Peninsular”. In: Actas das II Jornadas
Luso-Espanholas de História Medieval. Porto: Instituto Nacional de Investigação
Científica, 1987, pp. 455-489.
[3] Em 1063, o pontífice Alexandro II
animaria a todas as forças da cristandade para que combatessem na Espanha
contra os muçulmanos. O Papa concederia a remoção dos pecados àqueles que
aceitassem embarcar em tal empresa.
[4] Neste sentido, vid., WATT. W. A.. Historia de la España Islámica. Madrid, 1970; GUICHARD. Pierre. Al-
Andalus. Estructura antropológica de una sociedad islámica en Occidente.
Barcelona, 1976; ARIÉ. Rachel. España musulmana (siglos viii-xv). Vol. III da
Historia de España. Barcelona: Ed. Labor, 1984.
[5] “[...]
después de la caída del reino visigótico, el monje español Beato de Liébana
compuso un comentario sobre el Apocalipsis, que gozó de influjo tan grande
fuera como dentro de la península.” Del mismo modo, “a partir de fines del
siglo IX, hay una serie de crónicas latinas, que comienza con la Chronica
Visegothorum originaria del reino de Asturias; cortas y compendiosas en un
principio, gradualmente llegarán a ser más ambiciosas, tanto desde el punto de
vista de sus objetivos como en el tratamiento de los mismos.” (DEYERMON. A. D.
Historia de la literatura española. Barcelona, 1971, p. 145).
[6] Vid., DUFOURCO.
Ch., CHAUTIER. E. e DALCHE. J. Histoire économique et sociale
de l’Espagne chrétienne au Moyen Âge. París:
Armand Colin, 1976; MARTÍN. J. L. La Península en la Edad Media. Barcelona: Teide, 1976; VIGIL. M. e
BARBERO. A.. La formación del feudalismo en la península Ibérica. Barcelona, 1978;
MOXÓ. Salvador de. Repoblación y sociedad en la España cristiana medieval.
Madrid: 1979; BONASSIE. Pierre et alii. Estructuras feudales y feudalismo en el
mundo mediterráneo. Barcelona: 1980; MACKAY. A. La España de la Edad Media.
Desde la frontera hasta el Imperio (1000-1500). Madrid: Cátedra, 1980; MÍNGUEZ
FERNÁNDEZ. José María. Ruptura social e implantación del feudalismo en el
noroeste peninsular (siglos viii-x). In: Studia Histórica. III,2, Salamanca, 1985, pp. 7-32.
[7] Vid.
VALDEÓN. Julio. El reino de Castilla en la Edad Media. Bilbao, 1968; CORTÁZAR.
J. A. “La época medieval”, In: Historia de España. Madrid: Alianza, 1973; Íd..
Organización social del espacio en la España medieval. La Corona de Castilla en
los siglos VIII a XV. Barcelona: Ariel, 1985.
[8] Vid.
LACARRA. José María. Historia del reino de Navarra en la Edad Media. Pamplona,
1975.
[9] Vid.
BAGUÉ. E. “La sociedad en Cataluña, Aragón y Navarra en los primeros siglos
medievales”, In: Historia de España y América. vol. I. Barcelona; 1957; Íd.. Els primers comtes-reis. Barcelona: 1957; SOLDEVILA. F. Història de
Catalunya,. vol. I. Barcelona: 1962; ABADAL I VINYALS. R. d’. Dels visigots als
catalans. Barcelona, 1969; BONNASSIE. P. Catalunya mil anys enrera (segles X-XII). 2 vols. Barcelona: Edicions 62,
1981.
[10] Vid.
ORCÁSTEGUI. C y SARASA. E. Sancho III Garcés el Mayor, rey de Navarra. Iruña,
1991.
[11] Vid. GARCÍA
VALDEAVELLANO. L. Orígenes de la burguesía en la España medieval. Madrid, 1969;
GAUTIER DALCHE. J. Historia urbana de León y Castilla en la Edad Media (siglos
IX-XII). Madrid,
1979.
[12] Com o nome de ‘parias’ entendemos os
tributos que tinham que pagar os muçulmanos aos reinos hispânicos, e vice
versa.
[13] MENÉNDEZ
PIDAL. R. La España del Cid. Madrid, 1925; Íd. El imperio hispánico y los cinso
reinos. Madrid, 1950; MARAVALL, J. A. El concepto de España en la Edad media.
Madrid, 1964.
[14] Para a
biografia do Rodrigo Díaz de Vivar, vid.: CIROT. G. “Biographie du Cid, par Gil
Zamora”, In: Bulletine Hispanique. 16 (1914), pp. 80-86; MENÉNDEZ PIDAL, R. op.
cit. 1929; CAMÓN AZNAR. J. “El Cid, personaje mozárabe”, In: Revista de
Estudios Políticos. 17 (1947), pp. 109-141;
UBIETO. A. El «Cantar de Mio Cid» y algunos problemas históricos. Valencia:
Anubar, 1973; HORRENT. J. Historia y poesía en torno al «Cantar de Mio Cid». Barcelona: Ariel, 1973; e o
importante estudo sobre a Espanha do Alfonso VI de REILLY. B. F. The kingdom of Leon-Castilla under king Alfonso VI, 1065-1109.
Princeton: Princeton University Press, 1988.
[15] Citarei sempre pela edição: Cantar
de mio Cid. MONTANER. Alberto (ed.). Barcelona: Crítica, 1993.
[16] MENÉNDEZ
PIDAL, Ramón. La España del Cid. Madrid, 1925.
[17] Com relação às virtudes do cavaleiro
na Idade Média, vir-se COSTA. Ricardo da. “La caballería
perfecta y las virtudes del buen caballero en el Libro de la orden de
caballería (ca. 1279-1283), de Ramon Llull”. In: FIDORA, Alexander y HIGUERA,
José G. Ramon Llull caballero de la fe. Cuaderno de Anuario Filosófico, EIUNSA: Pamplona, pp.
11-40, que realiza uma excelente apreciação do carisma do cavaleiro e das suas
obrigações como servidor do povo, do rei e do Deus. Veja-se também o meu
trabalho sobre “El caballero a lo divino en Ramon Llull: contra el pecado de la lujuria”,
Revista Mirabilia, 1 (2001), www.revistamirabilia.com.
[18] Jean de
Grouchy, De musica, 1290. Cito por ZUMTHOR. Paul. La lettre et la voix: de la
“literatura” medieval. Madrid: Cátedra, 1989, p.
44.
[19] Sobre a fixação do Cid, vid.:
MONTANER., ed. cit., pp. 5-8, que realiza um resumo do texto e do contexto em
quanto ao problema da data da composição do Cantar. Contudo, a dataa que
prescreve Alberto Montaner, que situa a fixação do Cantar alrededor do ano de
1200, é muito mais prática para o fim deste estudo, já que, deste modo,
achamos-nos em unos momentos em que a situação social é de mudança, isto é, o
período que compreende estes anos é um período em o qual se está constituindo
um novo tipo de sociedade: a dos homens da fronteira, homens livres que se
regem por uma regalia própria, e por uma série de foros similares aos foros de
extremadura.
[20] Assim, “o semelhante dá com o
semelhante” (Timeu, 45 b-d).
[21] Cito por a o livro do GUERBER, H. A.
Edad Media. Mitos y Leyendas. M. E. Editores, 1995, p. 343.
[22] Ibid., p.
356.
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